A espera de um a três dias para o resultado do exame que diagnostica uma infecção frequente em recém-nascidos pode mudar para 15 a 20 minutos. A rapidez permite tratamento direcionado com agilidade. O resultado é a possibilidade de diminuir o tempo de internação e a mortalidade de bebês por sepse neonatal. É o que mostra pesquisa de iniciação científica da Universidade Federal do Paraná (UFPR) que usa teste de aglutinação em látex para proteínas A para agilizar a identificação da bactéria Staphylococcus aureus, causadora da sepse neonatal.

O estudo da recém-graduada em Medicina Carolina Labigalini Sampaio, orientada pela professora Keite da Silva Nogueira, do Departamento de Patologia Básica da UFPR, analisa a eficácia do teste em látex para identificar a bactéria em apenas de 15 a 20 minutos. O método usado normalmente para caracterizar o agente patogênico é a hemocultura, que detecta a presença de bactérias ou fungos no sangue, seguida do antibiograma, que permite a identificação do antibiótico mais adequado para o tratamento. O procedimento costuma demorar de 24 a 72 horas.

“É uma infecção frequente e grave e deve ser diagnosticada e tratada rapida­mente”

Keite da Silva Nogueira, do Departamento de Patologia Básica da UFPR, orientadora do estudo

 

“Nossa proposta é avaliar a performance de um teste simples, já feito em laboratórios, e que não necessita de equipamentos para identificar a bactéria causadora de sepse neonatal a partir do caldo de hemocultura positiva”, explica a professora Keite.

De acordo com os dados mais recentes publicados pelo Ministério da Saúde, a sepse é uma das principais causas de mortalidade por doenças no período neonatal. A incidência varia de um a oito casos por mil nascidos vivos, sendo a taxa de mortalidade em média de 25%, em 2014.

“É uma condição grave responsável por grande parcela das mortes em recém-nascidos. Escolhi esse tema com intuito de tentar ajudar no atendimento desses pequenos pacientes através dos resultados da pesquisa”, conta Carolina. “É uma infecção frequente e grave e deve ser diagnosticada e tratada rapida­mente”, acrescenta a professora Keite.

Adaptação de kit diagnóstico já existente

A metodologia normalmente usada para o teste de aglutinação em látex é fazer a análise após isolamento bacteriano em meio sólido. O estudo da UFPR mudou a forma de realizar o teste, utilizando direto o meio líquido, antes do subcultivo da hemocultura. O teste usa partículas de látex ligadas a anticorpos que reagem com a proteína A da bactéria Staphylococcus aureus, responsável por infecções mais graves na corrente sanguínea. Quando a reação ocorre formam-se pequenas partículas que indicam um teste positivo.

As pesquisadoras sugerem que o teste rápido avaliado seja feito enquanto o resultado da hemocultura não fica pronto e se der positivo, pode guiar a escolha do antimicrobiano. “Existem métodos mais avançados como espectrometria de massa ou biologia molecular, mas avaliamos esse teste que é mais barato e pode ser realizado sem a aquisição de equipamentos”, explica a professora Keite.

Teste usa partículas de látex ligadas a anticorpos que reagem com a proteína A da bactéria Staphylococcus aureus. Foto: Acervo Pessoal
Teste usa partículas de látex ligadas a anticorpos que reagem com a proteína A da bactéria Staphylococcus aureus. Foto: Acervo Pessoal

“Hoje existem equipamentos rápidos e mais acurados que o teste em questão e que a hemocultura, porém de alto custo. Sabemos que a maior parte dos serviços no ­Brasil não têm condições de adquirir esses equipamentos. Então o teste rápido é uma alternativa barata, de fácil utilização, capaz de direcionar melhor e mais rapidamente o tratamento quando positivo”, acrescenta Carolina.

Para o estudo, foram feitos 50 testes iniciais dos caldos de hemocultura dos pacientes internados na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal do Complexo Hospital de Clínicas (CHC) da UFPR de abril a julho do ano passado. A professora Keite esclarece que um número maior de amostras precisa ser testada para garantir a sensibilidade e especificidade do método.

“Apenas após um número significativo de testes poderíamos passar a reportar esses resultados para os clínicos”, diz.

Após a validação do teste em látex para uso na identificação de Staphylococcus aureus, a mesma metodologia pode ser usada identificação de outras espécies de bactérias de sepse neonatal, como Streptococcus, beta-lactamases e outros. As pesquisadoras comentam que Staphylococcus é o gênero mais frequente em infecções de corrente sanguínea e unidade neonatais. “Apesar de outras espécies como o Staphylococcus epidermidis serem mais frequentes que o Staphylococcus aureus, o aureus é responsável por infecções mais graves”, explica Keite.

Benefícios da iniciação científica para a formação

Carolina Labigalini Sampaio é formada pela primeira turma de Medicina que colou grau online pela UFPR em maio deste ano devido à pandemia de Covid-19. Durante a graduação, ela começou a fazer pesquisa em 2018 em iniciação científica orientada pela professora Keite também estudando a sepse neonatal.

Para Carolina, a formação envolvendo a iniciação científica auxiliou tanto na compreensão de como funciona uma pesquisa quanto no conhecimento de como funciona o laboratório de um hospital. “Além de todo conhecimento teórico que adquiri revisando o tema do estudo, aprendi muito sobre como funciona uma pesquisa, como planejá-la, como conduzi-la e como escrever um artigo científico”.

“Também foi essencial para entender como funciona o laboratório do hospital, quais os passos para obter o resultado de um exame, quanto tempo demora, como solicitar corretamente, como deve ser coletada uma amostra adequada”, complementa.

A experiência vista como uma oportunidade foi adquirida com a participação em todas as etapas da pesquisa. “A orientadora me ajudou a planejar o estudo, a conseguir os testes e me ensinou como usá-los. Fiz a testagem das amostras, computei os resultados, fiz a análise estatística e escrevi o trabalho. Eu só tenho a agradecer à UFPR e à professora Keite pela oportunidade.

Agradeço muito também a todos que trabalham no Laboratório de Análises Clínicas do CHC por toda ajuda durante esses anos”, diz Carolina.

Por Chirlei Kohls.
📖 Publicado originalmente na Revista Ciência UFPR (V. 5, nº 6, 2020).
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