Apesar da noção difundida na opinião pública sobre o chamado “efeito Tiririca” (eleição ao Legislativo de candidatos com votação inexpressiva devido à transferência de votos intra-lista dos partidos e coligações), o impacto dos “puxadores de votos” é pequeno. Esta é a conclusão do estudo “Sistema proporcional, puxador de votos e um problema inexistente: os mais votados já são os que se elegem“, publicado em junho de 2016 pelo Observatório das Elites Políticas e Sociais do Brasil, da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
“É uma exceção que ganha visibilidade na mídia, mas não é um problema verdadeiro do sistema eleitoral brasileiro”
O cientista político e doutorando Márcio Carlomagno analisou seis eleições (vereadores em 2008 e 2012, deputados estaduais em 2010 e 2014 e deputados federais nos mesmos anos), comparando os resultados obtidos no atual sistema com as posições finais na votação nominal que os candidatos ficaram em cada disputa, em todos os municípios e estados do Brasil.
A conclusão do autor é que apenas entre 8% e 13%, dependendo da eleição e do ano, dos que foram eleitos não foram, também, os mais votados, dentro do número de vagas disponível em cada disputa. Ou seja, de 87% a 92% dos eleitos foram, também, os mais votados em suas disputas.
O pesquisador também calculou as distâncias que o pequeno grupo beneficiado pela votação do partido/coligação ficou dos mais votados. Carlomagno mostra que, por exemplo, para o caso dos vereadores, em 2012, apenas 179 entre 57.251 vereadores eleitos naquele ano ficaram em posição abaixo do dobro do número de cadeiras em disputa. Levando em consideração o triplo do número de vagas, são apenas três casos, em mais de 50 mil eleitos.
Pesquisador considera o fenômeno “residual”
O cientista político defende que o chamado “efeito Tiririca” é algo residual. “É uma exceção, muito rara, que ganha visibilidade na mídia, mas não é um problema verdadeiro do sistema eleitoral brasileiro”, argumenta Carlomagno. O termo surgiu depois que o humorista se elegeu deputado federal pela primeira vez em 2010 pelo Partido Republicano (PR), com mais de 1,3 milhão de votos, ajudando a eleger três correligionários que não estavam entre os mais votados.
O estudo tem sido divulgado por meio da newsletter do grupo de pesquisa, disponível no site do observatório. São aceitas apenas notas de pesquisa originais. O coordenador do Observatório das Elites Políticas e professor do Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR, Adriano Codato, enfatiza que este tipo de publicação, mais curta e voltada para um público mais amplo, cumpre bem o papel de divulgação científica das pesquisas em ciência política.