Um artigo publicado no periódico Nature Scientific Reports relata os resultados de uma pesquisa feita na Universidade Federal do Paraná (UFPR) que investigou o papel de uma proteína, chamada ADAM33, em um tipo muito agressivo de câncer de mama. A pesquisa sugere que essa proteína serve como marcador para o diagnóstico de uma variedade muito agressiva de câncer de mama — o que pode levar a diagnósticos mais precisos, além de abrir a possibilidade de uma nova rota de estudo para o tratamento da doença no futuro.
Responsável por 15% dos casos, uma das variedades mais agressivas de câncer de mama é chamada de triplo-negativo e não tem terapia específica
O artigo “Down regulation of ADAM33 as a predictive biomarker of aggressive breast cancer“, publicado em março, é resultado da tese de doutorado de Graciele Manica no Programa de Pós-graduação em Microbiologia, Parasitologia e Patologia, com orientação da professora Giseli Klassen, que coordena o Laboratório de Epigenética da UFPR.
O câncer de mama é classificado de acordo com suas características clínicas, biológicas e moleculares. Uma das variedades mais agressivas de câncer de mama é o chamado triplo-negativo. Ele tem esse nome porque é caracterizado pela ausência de três biomarcadores usados na classificação do câncer de mama.
Parte do diagnóstico do câncer de mama é feita com testes imunohistoquímicos em amostras de biópsia dos tecidos da mama. Para estes testes, são produzidos anticorpos que detectam determinadas proteínas, chamadas de biomarcadores.
As variedades de câncer de mama que possuem um ou mais desses três biomarcadores ausentes no câncer triplo-negativo têm terapias específicas, que miram exatamente essas proteínas. Já para o câncer triplo-negativo ainda não existe uma terapia específica.
Proteína ADAM33 pode ajudar em prognóstico do triplo-negativo
O câncer de mama triplo-negativo representa 15% dos casos da doença e tem alta mortalidade — a taxa de sobrevivência após cinco anos do diagnóstico inicial é de apenas 20%. “Ele é mais agressivo porque cresce mais rápido e se espalha mais facilmente”, explica Giseli. Um subgrupo dessa variedade de câncer, o basal, também é uma forma agressiva da doença.
“É o início de uma nova estratégia para esse tipo de câncer, que causa muita preocupação por causa de sua alta taxa de mortalidade”
Para este estudo, a equipe produziu anticorpos que se ligam à proteína ADAM33, para investigar o papel dessa proteína no câncer de mama. Foram usadas 212 amostras de tecidos de tumores de mama. A análise das amostras mostrou que níveis mais baixos de ADAM33 estão correlacionados com câncer dos tipos triplo-negativo e basal. Níveis mais baixos dessa proteína também estão relacionados com taxas de sobrevivência (em geral ou sem metástases) mais baixas.
A descoberta sugere que essa proteína é um novo biomarcador molecular, que pode ser útil como fator de prognóstico.
“Esse é o início de uma nova estratégia para esse tipo de câncer, que causa muita preocupação por causa de sua alta taxa de mortalidade”, afirma Giseli, que já havia publicado um estudo sobre o tema em 2009. No estudo anterior, a equipe viu que a proteína ADAM33 tinha um papel em tecidos de tumores de mama, o que motivou a investigação da importância do papel dessa proteína na doença.
O objetivo do estudo atual foi produzir um anticorpo específico para a proteína ADAM33, para avaliar a expressão dessa proteína no câncer de mama e determinar a sua correlação com características patológicas e o prognóstico de pacientes da doença.
No artigo, os autores destacam a importância da busca por novos biomarcadores que possam melhorar o prognóstico do câncer de mama e o estudo de novas terapias. Outras ferramentas que podem ser usadas na rotina de diagnósticos clínicos com o mesmo propósito são mais complexas e mais caras, como o perfil genético.