Pela segunda vez nossa universidade recebe uma reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). A primeira, realizada em 1986, foi marcada pelo reforço do clima de abertura política e defesa da ciência na esfera local, o que mostra como o encontro acompanha os debates e transformações da educação pública superior no Brasil. Diversas personalidades da UFPR construíram suas trajetórias em uma íntima relação entre a universidade e a SBPC, deixando um legado inestimável para a instituição e para a ciência nacional. A exposição “Notáveis, Memória & Presença”, que faz parte da programação da reunião deste ano, destaca esses pesquisadores e pesquisadoras que ajudaram a formar toda uma geração de cientistas. Nessa edição, trazemos o registro fotográfico de quatro dessas figuras que figuram na mostra ao lado de João José Bigarella, Euclides Fontoura e Araci Asinelli da Luz. O professor do Departamento de História, Rafael Faraco Benthien, um dos curadores da exposição, realça a importância dessas personalidades: “São pessoas que circularam muito, criando pontes entre saberes e instituições. Quando o passado da ciência é visto sob esse prisma, de abertura, seu futuro também se torna mais esperançoso”.
Metry Bacila
Médico e destacado cientista da área da bioquímica o legado do filho de imigrantes árabes, nascido em Palmeira (PR) em 1922, vai além de sua sólida carreira na UFPR. Desde seu estágio com o ganhador do nobel de medicina, Luis Frederico Leloir até a atuação como professor visitante em universidades da Europa e dos Estados Unidos, Bacila acumula prêmios e feitos. Autor de diversos livros e artigos de destaque foi idealizador e integrante do Programa Antártico Brasileiro, defendeu a importância das expedições científicas e fundou o Centro dos Estudos do Mar da UFPR. Atuou ainda como membro do Conselho Deliberativo da Capes, marcando um apoio decisivo para o desenvolvimento da bioquímica em diversas instituições do país. Fotografia de 1982.
Glaci Zancan
Nascida em São Borja em 1935, a pesquisadora e bioquímica foi uma das pioneiras na defesa de uma política científica planejada e de longo alcance para o Brasil. Presidente da SBPC por dois mandatos, esteve a frente dos grandes debates científicos, deixando seu nome marcado em conquistas relacionadas à luta pela universalização da pesquisa nas universidades, por uma formação continuada de pesquisadores e pela profissionalização docente no ensino superior. Trabalhou com expoentes da bioquímica, como Metry Bacila e Luís Frederico Leloir, tendo papel destacado na consolidação do Programa de Pós-graduação em Bioquímica e Biologia Molecular da UFPR. Sua obra científica, voltada à bioquímica de micro-organismos, soma diversos artigos em periódicos de destaque internacional, além de obras sobre educação científica. Atuou ainda fora da academia, publicando dezenas de artigos sobre ciência e tecnologia na grande imprensa. Fotografias de 1997.
Newton Freire-Maia
Nascido em Minas Gerais em 1918, filho de farmacêuticos, o pesquisador trocou, a convite de Homero de Barros, a Universidade de São Paulo (USP), onde já tinha carreira estabelecida, pela UFPR para suprir a deficiência de professores na área de genética. Interessado por este campo desde a juventude, dedicou-se a estudar casamentos endogâmicos a partir de casos de seus ascendentes na família Figueiredo. Já no Paraná dedicou-se à pesquisa sobre displasias ectodérmicas, doenças genéticas que afetam cabelos, unhas, dentes e peles, criando uma classificação para esse tipo de condição que é utilizada ainda hoje. Atuando em uma área que estava em pleno desenvolvimento em sua época, trabalhou com nomes internacionalmente reconhecidos como André Dreyfus e Crodowaldo Pavan, também dedicou-se à pesquisa, como professor convidado, na Universidade de Chicago (EUA) e na Organização Mundial da Saúde (OMS). Publicou inúmeros trabalhos científicos e ajudou a formar a atual geração de pesquisadores da área de genética médica no Brasil. Em 2002 o governo do Paraná o homenageou com um parque temático dedicado à ciência. Fotografias de 1997.
José Loureiro Fernandes
Apesar de nascer em Lisboa em 1903, era de uma tradicional família curitibana de origem portuguesa. Formado médico, vai ter na sua dedicação aos museus e à arquelogia e etnologia seus maiores feitos tendo sido diretor do Museu Paranaense e fundador do atual Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da UFPR. Fazendo carreira política, foi vereador em Curitiba e depois nomeado Secretário de Cultura do Estado. Foi ainda presidente da Associação Brasileira de Antropologia fundando o departamento nessa área na UFPR. Organizou diversas expedições científicas ao lado do fotógrafo e cinegrafista de origem tcheca, Vladimir Kozák, para estabelecer contato com os Xetá, etnia indígena que via seu território ser usurpado pela expansão do café na década de 1950. Tentou usar sua influência para buscar a demarcação das terras indígenas e denunciar sua usurpação, mas não conseguiu evitar que a violência e os deslocamentos forçados continuassem, perto do ano 2000, as pesquisas da antropóloga Carmen Lúcia da Silva conseguiu localizar apenas oito Xetás originais, além de seus filhos e netos. As expedições legaram um material inestimável sobre a cultura desse povo entre fotografias, filmagens, objetos e descrição de práticas culturais. Fotografia possivelmente do final da década de 1950 ou início de 1960.