De repente, você, pesquisador, abre seu e-mail e se depara com um convite que caiu do céu: “invitation to publish your article” (em português, “convite para publicar seu artigo”). Sem pensar duas vezes, abre a mensagem e vê que a revista o identificou como um pesquisador de renome na sua área (como eles sabiam?) e promete publicar o artigo em até dois meses. Você não conhece a revista, mas o nome dela até remete a títulos de periódicos conhecidos na sua área. Parece bom demais para ser verdade. Porque é bom demais para ser verdade.
“Basta o pesquisador ter registro de submissão de trabalhos a eventos científicos para estar sujeito à abordagem”
Caso aceite a proposta, você submete seu artigo à revista e, poucos dias depois, os editores devolvem o manuscrito com alguns comentários superficiais (do tipo “favor incluir mais referências atuais”) como única condição para publicação. Você efetua as alterações e a revista dá a resposta que faz qualquer pesquisador sorrir: “seu artigo está pronto para publicação”. Só que agora a revista está pedindo uma última exigência, uma taxa (que não havia sido informada antes) de 200 dólares. Sabendo que a publicação está garantida, você paga.
É assim que você se torna mais uma vítima de um periódico predatório — termo pelo qual ficaram conhecidas as publicações em que a prioridade parece ser a comercialização de espaço editorial em vez da disseminação de ciência qualificada. Devido a fatores como cobrança de altas taxas, falta de critérios e ausência de revisão por pares, essas publicações não têm credibilidade para a comunidade científica internacional.
Basta o pesquisador ter registro de submissão de trabalhos a eventos científicos para estar sujeito a esse tipo de abordagem. Segundo o professor Marcelo Perlin, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que pesquisa o fenômeno dos periódicos predatórios, trata-se de uma tendência que não para de crescer.
Em trabalho publicado na Scientometrics em 2018 (“Is predatory publishing a real threat? Evidence from a large database study“), Perlin e co-autores revelaram que algumas revistas até adentraram o sistema brasileiro Qualis/Capes, que ranqueia as publicações em cada área. Essas inclusões ocorrem, obviamente, porque pesquisadores submeteram trabalhos a tais revistas. Além disso, segundo Perlin, existem pesquisadores que encaminham artigos mesmo conscientes de que se trata de revista predatória.
Qual é o problema de submeter seu artigo a um periódico predatório? Primeiro, tais revistas não são referência internacional, portanto ter seu trabalho publicado nelas não agrega nada àquilo que o pesquisador tem de mais valioso na carreira (seu nome!) e nem ao programa de pós-graduação. Entretanto, talvez o problema mais grave seja o fato de a maioria dessas revistas não ser indexada em sites confiáveis (por exemplo, o Web of Science). Com isso, o bom artigo se perde em um buraco negro, povoado por outros milhares de trabalhos de autores que também caíram na cilada.
OS DEZ INDÍCIOS DE QUE O PERIÓDICO É PREDATÓRIO
1. Você recebeu um convite. (Revistas respeitadas geralmente não fazem esse tipo de convite!)
2. Promessa de publicação com prazo muito rápido (por exemplo, em até dois meses).
3. O corpo editorial só tem nomes de um determinado país, sem muita informação sobre as instituições em que atuam.
4. O contato da revista é através de um serviço de e-mail gratuito.
5. A revista também convida você a ser um editor.
6. Existem erros no texto em inglês no convite e/ou no site da revista (ou o estilo do texto é “estranho”).
7. O site da revista não traz informação sobre indexação ou informa que ela está indexada em lugares que você nunca ouviu falar.
8. Parece que a revista não tem tema específico: é multidisciplinar demais.
9. A área de conhecimento da revista é diferente da área que você pesquisa, o que torna o convite ainda mais suspeito.
10. O convite vem de uma revista de que você nunca ouviu falar e não consegue identificar qual é apenas com uma busca na internet.
excelente artigo!