Era março quando, em uma das muitas coletivas de imprensa na Casa Branca para tratar da pandemia causada pelo novo coronavírus, o Brasil foi citado como um dos países onde estavam acontecendo estudos clínicos sobre a eficácia da hidroxicloroquina. Na época, por causa de um estudo francês que começava a ganhar fama, imaginava-se que o fármaco tinha boas chances contra a covid-19. Isso tomou a fala do presidente dos Estados Unidos repetidas vezes, em coletivas e no Twitter, e aquele estudo francês ganhou mais fama ainda. Como é raro ver Donald Trump citar ciência, e pelo fato do Brasil ter sido mencionado, comecei a acompanhar a resposta do mundo científico.
Não demorou para que estudos relacionados surgissem em volta do globo, todos no intento de avançar o conhecimento sobre uma possível solução nesse momento crítico. A urgência da pandemia havia salientado um fato da ciência moderna: a repercussão de uma publicação é profundamente amplificada se houver capilaridade internacional.
“Talvez nunca antes na história da ciência tenha ficado mais óbvio que a pesquisa não deve se restringir à particularidade local”
Um estudo publicado em 2013 na revista Nature, com o título “Collaborations: The fourth age of research”, comprovou que artigos científicos assinados por autores de pelo menos duas nacionalidades recebem mais citações, ressaltando a importância de redes internacionais de pesquisa. Nesse contexto, o indexador SciELO, desde 2014, vem incentivando a internacionalização das revistas brasileiras, pois “muito da sobrevivência e relevância futura dos periódicos de qualidade do Brasil dependerá da inserção ativa no fluxo de informação científica internacional”, segundo Abel Laerte Packer em “SciELO e o futuro dos periódicos”.
Essa inserção também depende do idioma da publicação. Para evitar o que já foi chamada de “ciência perdida no terceiro mundo”, nas palavras de Packer, a SciELO tem encorajado o incremento de publicação em língua inglesa e, em 2012, já havia mais artigos publicados em inglês do que em português. A pandemia realçou esta tendência. A pesquisa francesa que chegou aos ouvidos de Trump foi publicada em inglês (o artigo recebeu o título “Hydroxychloroquine and azithromycin as a treatment of COVID-19: results of an open-label non-randomized clinical trial”) e talvez não teria o mesmo nível de atenção se fosse publicada em francês.
Um estudo publicado em 2013 na Nature, com o título “Collaborations: The fourth age of research”, comprovou que artigos científicos assinados por autores de pelo menos duas nacionalidades recebem mais citações, ressaltando a importância de redes internacionais de pesquisa. Nesse contexto, o indexador SciELO, desde 2014, vem incentivando a internacionalização das revistas brasileiras, pois “muito da sobrevivência e relevância futura dos periódicos de qualidade do Brasil dependerá da inserção ativa no fluxo de informação científica internacional”, segundo Abel Laerte Packer em “SciELO e o futuro dos periódicos”.
Cientistas de outras nacionalidades que, posteriormente, contribuíram para o avanço de pesquisas no mesmo tema, também optaram por publicar em inglês. Não só para causar maior impacto mas também porque sabiam que seus estudos têm relevância internacional e publicar em língua nacional poderia ser interpretado como se não tivessem.
A maioria dos autores que procuram ajuda do Centro de Assessoria de Publicação Acadêmica (Capa) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) tem por objetivo publicar seu artigo em periódico de circulação internacional. Somente depois de ajudar os autores a aprimorar a versão original em português é que o Capa traduz o texto para inglês. Esta dinâmica, apesar de aceitável, é um sintoma de falta de inserção internacional: se tivessem tido participação de colaboradores internacionais provavelmente s trabalhos teriam sido escritos, desde o início, em língua estrangeira.
A pandemia causada pelo vírus Sars-CoV-2 é um problema mundial. Talvez nunca antes na história da ciência tenha ficado mais óbvio que a pesquisa não deve se restringir à particularidade local. O Brasil tem muitos estudos que merecem ser lidos por um público internacional, e é a nossa esperança ajudar a elevar a visibilidade das nossas pesquisas e também o perfil de nossos pesquisadores. Algum dia esta crise passará, mas a reputação da pesquisa brasileira, e as novas redes internacionais de pesquisa que poderão se formar a partir dela, talvez permaneçam.