Uma substância chamada Fruticulina A, presente na espécie de planta Salvia lachnostachys, apresentou um efeito benéfico no combate a células cancerosas humanas e ao Carcinoma Sólido de Ehrlich, desenvolvido em camundongos e semelhante ao tumor da mama humano. Os resultados da pesquisa realizada na Universidade Federal do Paraná (UFPR) foram publicados na revista Scientific Reports, do grupo Nature. A professora Alexandra Acco, do Departamento de Farmacologia, foi a orientadora do estudo desenvolvido no doutorado da pesquisadora Claudia Rita Corso.
A espécie de sálvia estudada não é aquela que se utiliza como tempero na culinária, mas outra, que é endêmica no sul do Brasil, especialmente no Paraná e Santa Catarina, considerada nativa da Mata Atlântica. Ela já vinha tendo seus compostos analisados pela também professora da UFPR Maria Élida Alves Stefanello, do Departamento de Química, que indicou às pesquisadoras que poderia existir um potencial farmacológico na planta.
O estudo foi desenvolvido “in vitro” – fora do organismo vivo, usando apenas células tumorais isoladas – e “in vivo”, em camundongos, tanto com o extrato completo da sálvia quanto com a fruticulina A isolada. Os primeiros resultados, que utilizaram o extrato completo, foram publicados no ano passado na revista Molecular Biology Reports. “O extrato completo tem uma composição mais complexa e apresenta diferentes atividades biológicas. Com ele, já percebemos a atividade anti-tumoral no modelo in vivo, com os camundongos”, explica a professora.
“O composto apresentou efeito anti-tumoral, induzindo a várias reações celulares”
Alexandra Acco, professora do Departamento de Farmacologia da UFPR
Os resultados ainda indicaram que a fruticulina era o composto predominante na análise do extrato. Existente também em outras espécies, ele foi isolado da Salvia lachnostachys e estudado em profundidade na investigação. Seus resultados, segundo Alexandra, não foram iguais ao do extrato, o que sugere mecanismos distintos de ação em células com tumor. “O composto apresentou efeito anti-tumoral, induzindo a várias reações celulares”.
A professora explica que as células tumorais se multiplicam rapidamente e sem finalidade. O objetivo de terapias anticancerígenas é combater esta capacidade proliferativa e levá-las à morte, tal como ocorre em procedimentos como a quimioterapia, por exemplo. Nos experimentos, a fruticulina conseguiu esse resultado por vários caminhos diferentes, o que lhe apresenta como molécula promissora para o desenvolvimento de fármacos no tratamento do câncer. Entre esses caminhos, destacaram-se na análise a regulação da inflamação, apoptose e necroptose no tecido tumoral.
Os resultados também apontam para um efeito antiproliferativo, ou seja, de diminuição da multiplicação celular entre as células tumorais. Apesar dos resultados positivos, a pesquisa traz importantes desafios: para novos testes com o extrato da planta e com o composto específico é necessário um complexo procedimento de isolamento e também grande quantidade de material.
Estudos do grupo envolvem outras plantas
Alexandra ainda destaca que os resultados do procedimento in vitro foram possíveis graças à colaboração com o Tytgat Institute for Liver and Intestinal Research, em Amsterdã, onde parte da pesquisa foi realizada durante o doutorado sanduíche da pesquisadora Claudia Corso. O artigo também tem colaboração de outros pesquisadores da UFPR e da Universidade do Vale do Itajaí (Univali).
Além do estudo da fruticulina e do extrato de sálvia, a equipe da professora vem estudando o efeito de extratos de outras plantas (Sinningia reitzii) e de polissacarídeos no tratamento das células tumorais, em colaborações com os Departamentos de Química e de Bioquímica da UFPR, respectivamente.
O pimentão, objeto de uma tese divulgada pelo Curta Ciência e duas frutas do Cerrado, o tucum e a bocaiúva, estão entre os interesses de pesquisa. A ideia é extrair os compostos e implementar os ensaios para avaliar os resultados e sua potencialidade terapêutica contra alguns tipos de câncer.