Nova espécie de árvore conhecida como quaresmeira é descoberta na região da Grande São Paulo
A quaresmeira é nativa do Brasil, sendo raramente encontrada fora do país. A árvore tem papel fundamental para a recuperação de áreas desmatadas e é bastante útil no reflorestamento de florestas degradadas. Fotos: Meyer e Goldenberg/PG Botânica UFPR/Acervo

O final do verão é invadido por tons intensos de rosa e roxo em diversas cidades do Brasil graças à florada das quaresmeiras e dos manacás-da-serra, espécies de plantas muito presentes na arborização de centros urbanos. Inclusive o nome popular da quaresmeira foi dado devido às flores desabrocharem nesta época do ano, que antecede a Páscoa e sucede ao Carnaval. 

De copa arredondada, com folhas verde-escuras e carregadas com flores roxas ou rosadas, essas árvores apresentam um porte pequeno a médio, chegando até 12 metros de altura, e pertencem a espécies do gênero Pleroma. Apesar de nativas de florestas úmidas, elas atualmente podem ser encontradas em todo o país, devido à popularização do cultivo e a sua capacidade de tolerância à poluição.  

Em setembro de 2023, pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Botânica da Universidade Federal do Paraná (UFPR) descreveram uma nova espécie de Pleroma, encontrada no Núcleo Curucutu do Parque Estadual da Serra do Mar, localizado, em parte, no município de São Paulo. 

GALERIA | A nova espécie foi estudada por dez anos até ser descrita
Quaresmeira é um nome popular atribuído a diversas espécies do mesmo gênero (Pleroma). Fotos: Meyer e Goldenberg
A nova espécie descrita é endêmica dos campos de altitude do estado de São Paulo e foi coletada no Núcleo Curucutu do Parque Estadual da Serra do Mar (SP)
O topônimo “Curucutu” tem origem na onomatopeia que faz referência ao pio de uma coruja
Além de P. curucutuense, outras seis espécies do mesmo gênero podem ser encontradas nas proximidades da região
P. curucutuense possui um porte menor que as demais espécies do gênero, com flores reunidas e pétalas roxas, de porção basal branca
A floração de P. curucutuense ocorre entre fevereiro e abril e frutificação a partir de abril
Exsicata de P. curucutuense no herbário da UFPR: partes da planta desidratadas com elementos característicos e necessários para a classificação das espécies, tais como galhos, folhas e flores
O professor Goldenberg é especialista na família botânica Melastomataceae, à qual pertence o gênero Pleroma
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Quaresmeira é um nome popular atribuído a diversas espécies do mesmo gênero (Pleroma). Fotos: Meyer e Goldenberg
A nova espécie descrita é endêmica dos campos de altitude do estado de São Paulo e foi coletada no Núcleo Curucutu do Parque Estadual da Serra do Mar (SP)
O topônimo “Curucutu” tem origem na onomatopeia que faz referência ao pio de uma coruja
Além de P. curucutuense, outras seis espécies do mesmo gênero podem ser encontradas nas proximidades da região
P. curucutuense possui um porte menor que as demais espécies do gênero, com flores reunidas e pétalas roxas, de porção basal branca
A floração de P. curucutuense ocorre entre fevereiro e abril e frutificação a partir de abril
Exsicata de P. curucutuense  no herbário da UFPR: partes da planta desidratadas com elementos característicos e necessários para a classificação das espécies, tais como galhos, folhas e flores
O professor Goldenberg é especialista na família botânica Melastomataceae, à qual pertence o gênero Pleroma
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O exemplar foi coletado em fevereiro de 2012 e o pesquisador Fabrício Schmitz Meyer, atualmente em pós-doutorado na UFPR e especialista nesse gênero de planta, levou mais de dez anos para estudá-lo detalhadamente e chegar à conclusão que se tratava de uma nova espécie. A descoberta foi publicada na revista de taxonomia botânica Phytotaxa 

Em homenagem ao Núcleo Curucutu, do Parque Estadual da Serra do Mar, único local de ocorrência da espécie conhecido até o momento, a planta foi batizada de Pleroma curucutuense.

“Ela é uma parente das quaresmeiras e manacás, mas ao contrário das mais conhecidas, possui um porte menor, as flores reunidas em inflorescências e as pétalas são roxas, apenas com a porção basal branca, ou seja, não mudam de brancas para lilases durante a abertura”, explica Meyer à Ciência UFPR. 

O fato de a espécie ser endêmica apenas da região do parque pode significar que há risco de extinção, devido a sua distribuição restrita. Os pesquisadores acreditam não ser provável que exemplares da planta sejam encontrados fora desta área, mas que é possível que ela esteja amplamente distribuída dentro do próprio núcleo em que foi coletada.  

“A espécie só foi apanhada em campos de altitude próximos da sede do parque, mas estas formações se estendem mais a leste e a sul nas cristas mais altas desta porção da Serra do Mar. Assim, suspeitamos que existam mais populações da espécie em áreas insuficientemente amostradas dentro do próprio parque e, quanto maiores forem as populações, menos risco ela corre”, avalia o autor do artigo. 

Apesar de ter sido descrita só agora, a espécie foi coletada pela primeira vez em 1996 e ficou depositada na coleção biológica da UFPR, chamada herbário, por todo esse tempo.

GALERIA | Herbários são imprescindíveis para documentação de espécies
 
Um herbário é uma coleção de espécimes vegetais desidratados e catalogados que constituem uma fitoteca, ou seja, biblioteca vegetal. Fotos: Marcos Solivan
O herbário do Departamento de Botânica da UFPR, fundado em 1952, é um dos mais antigos do Brasil
Atualmente, o acervo tem cerca de 105 mil espécimes de plantas e fungos da flora brasileira
O acervo da UFPR é a segunda maior coleção do estado
O local mantém uma ativa colaboração com diversos herbários do Brasil e do exterior e participa ativamente das iniciativas nacionais e internacionais envolvendo coleções biológicas, como os projetos para a elaboração da Flora Mundial e da Flora do Brasil
O herbário é fiel depositário de amostras de patrimônio biológico junto ao Conselho Nacional do Patrimônio Genético, sendo receptor legal e responsável pela guarda de amostras utilizadas em estudos bioquímicos, farmacológicos e biológicos
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Um herbário é uma coleção de espécimes vegetais desidratados e catalogados que constituem uma fitoteca, ou seja, biblioteca vegetal. Fotos: Marcos Solivan
 O herbário do Departamento de Botânica da UFPR, fundado em 1952, é um dos mais antigos do Brasil
Atualmente, o acervo tem cerca de 105 mil espécimes de plantas e fungos da flora brasileira
O acervo da UFPR é a segunda maior coleção do estado
O local mantém uma ativa colaboração com diversos herbários do Brasil e do exterior e participa ativamente das iniciativas nacionais e internacionais envolvendo coleções biológicas, como os projetos para a elaboração da Flora Mundial e da Flora do Brasil
O herbário é fiel depositário de amostras de patrimônio biológico junto ao Conselho Nacional do Patrimônio Genético, sendo receptor legal e responsável pela guarda de amostras utilizadas em estudos bioquímicos, farmacológicos e biológicos
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“Isso é comum acontecer, pois a pessoa que coletou antes não conseguiu identificar como uma nova espécie, já que para estudar a flora, dependemos de amostras depositadas no herbário. E este é um trabalho geralmente realizado em longo prazo pois passa por diversas etapas”, conta o professor do Departamento de Botânica da UFPR e supervisor da pesquisa, Renato Goldenberg.  

Semelhanças com outras espécies do gênero 

Pleroma curucutuense é morfologicamente parecida com Pleroma caissara, espécie descrita pelos mesmos autores em 2014. As principais diferenças dizem respeito ao porte reduzido, folhas menores com apenas três nervuras, flores e peças florais menores.

“Elas também ocorrem em habitats diferentes. P. curucutuense ocorre acima de 750 metros, em campos de altitude, enquanto P. caissara ocorre entre dez e 400 metros de altitude, próximo à costa, na restinga e na Mata Atlântica de várzea e submontana”, revela Meyer. 

Ainda que suas parentes, quaresmeiras e manacás-da-serra, sejam comuns em diversas áreas do território brasileiro, não se sabe se a nova espécie descrita poderia ser cultivada em outras regiões, já que essa situação só poderá ser constatada após testes. Contudo, o padrão é que as quaresmeiras são plantas de fácil cultivo a partir de sementes e possuem enorme potencial ornamental. 

Uma das principais regiões do país ainda tem flora desconhecida    

Embora cada novo táxon (agrupamento de organismos biológicos construído com base em uma definição) descoberto represente um incremento do conhecimento sobre a biodiversidade, o fato de encontrar uma espécie inédita próxima a grandes núcleos urbanos é um dos aspectos considerados mais interessante da pesquisa. 

“Chama atenção que uma espécie, até então desconhecida, seja reconhecida como nova no município de São Paulo, que inclui uma das maiores áreas urbanas do mundo e a maior da América do Sul, comportando milhões de pessoas. É impressionante que uma cidade desse porte ainda tenha áreas naturais com flora não totalmente conhecida”, assegura Goldenberg. 

O Parque Estadual da Serra do Mar abrange parte de 23 municípios, indo da divisa de São Paulo com o Rio de Janeiro até Itariri, no sul do estado paulista e cobrindo toda a região serrana e arredores da Serra do Mar. A área de preservação possui uma vegetação bastante rica, com pelo menos 512 espécies nativas já inventariadas em seus campos de altitude. 

O Núcleo Curucutu, local onde P. curucutuense foi coletada, está localizado entre a região metropolitana da baixada santista e a grande São Paulo. 

➕ Leia detalhes no artigo “A new species of Pleroma (Melastomataceae) from high-altitude grasslands of the state of São Paulo, Brazil”, publicado no periódico Phytotaxa
➕Veja mais fotos aqui
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Comentários de

  1. poderiam ter descrito na matéria a diferença para o manacá-da-serra também, já que ele tem porte, folhas e folres menores, o que aproximaria mais do gênero do que a própria quaresmeira.

    1. Samara, é uma planta realmente linda! Importante lembrar, porém, que a definição de uma espécie significa muito mais do que apenas perceber as cores dela. “Parecido” não significa da mesma espécie. Abraços!

  2. Não tem só aí não. Aqui no Matogrosso todo e na região de Acorizal é mata de tanto que tem e na época da florada fica tudo lilás. Uma beleza ímpar !!

  3. O pesquisador pode ver essa em campos de altitude de Ouro Preto, mg. Há uma grande variedade de tipos

    1. Olá, Monica, boa tarde. Vamos passar a sua dica ao pesquisador. Contudo, a título de informação, é preciso dizer que a definição de uma espécie (taxonomia) é um processo que inclui uma análise bastante ampla das características do ser vivo, que vão além da questão visual. No artigo com link no fim da matéria é possível constatar isso. Agradecemos o comentário e aproveitamos para apresentar nossos canais, para que você possa acompanhá-los se achar interessante: https://linktr.ee/cienciaufpr. Abraços!

    2. Essa quaresmeira é mato nas serras do ERJ e, já está se acostumando ao calor do centro da cidade.

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