O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) estabelece a adição obrigatória de 10% de biodiesel no diesel de origem fóssil. O não cumprimento dessa norma por parte das empresas responsáveis pela produção e distribuição do produto é considerado fraude contra a administração pública, além de acarretar perda de dinheiro ao Estado. A fiscalização e a constatação de irregularidades dependem de análises laboratoriais mais complexas, tornando esse processo demorado e custoso.
Entretanto, essa realidade está prestes a mudar pois um método desenvolvido pelo grupo de pesquisa em Ressonância Magnética Nuclear (RMN) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) promete determinar a quantidade de biodiesel no diesel de forma rápida e com baixo custo.
O método tem potencial para ser um grande aliado das agências reguladoras e de controle, já que a partir dele podem ser desenvolvidos equipamentos com capacidade de detecção de fraudes em tempo real
A técnica consiste em gerar uma curva de calibração com diferentes teores de biodiesel em diesel em um equipamento de Ressonância Magnética Nuclear (RMN). Esse procedimento é feito apenas uma vez e, em seguida, qualquer amostra de combustível adicionada ao equipamento passa por uma leitura que apresenta o teor de biodiesel presente naquela porção.
De acordo com o coordenador da pesquisa, professor Andersson Barison do Departamento de Química da UFPR, o método tem potencial para ser um grande aliado das agências reguladoras e de controle, já que a partir dele podem ser desenvolvidos equipamentos com capacidade de detecção de fraudes em tempo real se instalados em bombas de combustível, por exemplo.
As dimensões compactas e a inexistência de manutenção de sistemas de Ressonância Magnética Nuclear (RMN) no Domínio do Tempo, ou RMN-DT, permitem que eles sejam colocados em pontos específicos para o monitoramento permanente, com transmissão on-line de dados para as agências de controle. “Com a publicação desta técnica, qualquer empresa interessada pode desenvolver o dispositivo para ser instalado nas bombas. Assim, à medida que o combustível passar pelo equipamento, enquanto os veículos são abastecidos, ele fará a leitura de forma simultânea dos tempos de relaxação dos núcleos atômicos, que estão diretamente relacionados ao teor de biodiesel”, explica Barison.
Vantagens do novo método
Segundo o especialista, além de não possuir custo de manutenção, os equipamentos apresentam preços acessíveis, em torno de R$ 50 mil, e não exigem materiais consumíveis para realizar as análises. “Em alguns testes de Covid-19, por exemplo, são utilizados swabs para fazer as coletas. No nosso método, nada além do equipamento é necessário. Basta colocar o combustível no aparelho. Como vantagem, ele também não gera nenhuma poluição ambiental”, argumenta.
“No nosso método, nada além do equipamento é necessário. Basta colocar o combustível no aparelho. Como vantagem, ele também não gera nenhuma poluição ambiental”
Com a publicação da técnica, ela se tornou de domínio público. A empresa Bruker, que desenvolve equipamentos de RMN, pretende aprimorar o método e realizar o escalonamento industrial, além de enviar o pedido de inserção como método da American Society for Testing and Materials (ASTM), órgão dos Estados Unidos similar à nossa Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e reconhecido internacionalmente, que estabelece as normas e os métodos padrões para avaliação de produtos e testes de materiais.
Laboratório Multiusuário de RMN da UFPR
O Laboratório Multiusuário de Ressonância Magnética Nuclear (RMN) da UFPR atua no desenvolvimento de vários métodos utilizando a tecnologia para o diagnóstico de doenças, para o controle de qualidade de alimentos e bebidas, para o controle de qualidade de combustíveis, entre outros. A técnica de detecção de biodiesel no diesel foi criada a partir da dissertação de mestrado de Grazielli da Rocha, do Programa de Pós-Graduação em Química. O artigo foi publicado na American Chemical Society (ACS).
Boa tarde.
Gostaria de entrar em contato para falarmos acerca do equipamento utilizando ressonância magnética nuclear.
Meu nome é Mylena Furtado e trabalho no Instituto Combustível Legal.
Não encontrei, portanto, uma forma de contato direta para acompanhamento do desenvolvimento da tecnologia divulgada.